Sexo, infância, TV e consumo: crianças e adolescentes como consumidores, em uma sociedade
Introdução: infância e TV Hoje em dia, segundo dados do IBOPE, as crianças brasileiras passam quatro horas, em média, diante da TV (Jornal do Brasil, edição de 23/04/2003, primeiro caderno, p.13; Gomide, 2002). A programação televisiva é assistida por todas as faixas etárias, tornando-se fundamental na construção da subjetividade infantil e enfatizando o papel de crianças e adolescentes como consumidores, em uma sociedade que parece caraterizar-se pelas relações de produção e de consumo permeando todas as relações sociais.
A transmissão cultural tem deixado de habitar, preponderantemente, a falí- lia e a escola para se assentar na relação que as crianças e os adolescentes estabelecem com as redes midiáticas e telemáticas.
A autoridade e o conhecimento de pais e professores são rivalizados e até questionados por essas novas modalidades de ler o mundo. Segundo Castro (2000), a criança se torna parceira de gozo na cultura orgiástica do consumo: uma criança-sujeito, autora de decisões e escolhas que são negociadas na órbita familiar e não mais um sujeito que vê o mundo apenas com os olhos de seus pais.
De acordo com Reis (2001), em sintonia com os padrões sócio-culturais tradicionais, caberia aos pais o papel de educar e administrar o que acontece no lar, mas as mães contem porâneas, em geral, precisam combinar duas ou três jornadas de trabalho com elevado nível de exigência, e os pais, muito vinculados ao seu papel tradicional, pouco ainda exercem essa função.
Com pai e mãe trabalhando fora de casa, as crianças de classe média, por exemplo, costumam passar a maior parte dotempo sozinhas ou na companhia de parentes idosos (avó ou avô) e empregadas domésticas – a creche (ainda) não é um serviço muito abrangente – e isso facilita o consumo excessivo e não seletivo dos programas da TV, inclusive (e principalmente) aqueles não recomendados para o público infantil, transformando a TV em uma espécie de companheira e/ou babá.
Embora a autora acima citada tenha concluído em sua pesquisa que os programas infantis da TV têm um baixo teor de insinuações erótico-sensuais e, portanto não chegam a influenciar o comportamento psicos sexual das crianças, por outro lado, ela encontrou igualmente como de maior audiência no público infanto-juvenil (que se compõe de 12 milhões de telespectadores na faixa etária dos 2 aos 14 anos, entre as classes A e E), cinco programas, a saber (em ordem decrescente de preferência), novela das oito (que é mais ou menos às 21h), Globo Repórter, Linha Direta, Jornal Nacional e Tela Quente, todos da Rede Globo, destinados ao público adulto e considerados impróprios para menores de 14 anos.
Com menos da metade da audiência dos programas acima relacionados, seguiram-se programas especificamente destinados ao público infanto-juvenil, como Disney Clube (SBT), Eliana e Alegria (Record), entre outros.
Alguns programas infantis, na época apresentados por Angélica e Eliana – Angel MIX e Eliana & Alegria, respectivamente – foram freqüentemente criticados por incentivar a sexualidade precoce e reforçar estereótipos. Apesar, então, de um relativo controle do conteúdo da programação destinada ao público infanto-juvenil, o papel da televisão na sociedade não parece ser tão inofensivo assim em relação ao desenvolvimento psicos sexual e social da criança.
A maior parte da programação imprópria para a faixa etária em questão é assistida junto com os pais, quando estes já estão em casa, seja porque eles próprios estão assistindo aos seus programas favoritos, seja por falta de opção de programa- cão infanto-juvenil neste horário, quando se espera que as crianças já estejam na cama. Segundo Dias (2000), já se foi o tempo em que as crianças iam dormir mais cedo, antes do chamado “horário nobre”. Pode-se perguntar se elas estão prestando atenção ou não, mas como este grupo etário é o mais presente, assistindo a praticamente tudo, de alguma forma estão elaborando o que vêem. E segundo os dados do IBOPE, (apud Reis, 2001) com base na PNAD (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em 2000, cerca de 87% dos domicílios brasileiros tinham aparelhos de TV, o que corrobora o processo de universalização da televisão como meio de comunicação social.
Não se discute que a TV seja em si um meio altamente atraente, que mobiliza e exerce um grande fascínio para adultos e crianças, adolescentes e idosos, mas podes discutir o fato de que a televisão tenha se transformado de simples aparelho eletro doméstico em poderoso agente de transformadão das relações intra familiares. Nas classes média e alta, não é raro se encontrar dois ou três aparelhos de TV numa mesma casa, e em nome até mesmo da pretensa liberdade de escolha, cada um Assis-
te ao que quer em seu próprio quarto, trocando a convivência e o compartilhar entre os membros da família pelos produtos televisivos, de qualidade e ética bastante questionáveis, com a multiplicidade na oferta de redes de TV, canais e programas, facilitando e reforçando esta separação. Multiplicidade essa também relativa, pois há uma infinidade de programas abordando sempre as mesmas questões de forma estereotipada, mas de audiência garantida. Dados de 2001 da NCRF revelam que nos EUA 56% das crianças têm uma TV em seus quartos e que assistem a aproximadamente 25 horas por semana.
Mesmo que os pais desejem dialogar sobre sexo com seus filhos antes que estes atinjam a maturidade sexual, antes mesmo que surjam as conversas sobre sexo entre colegas, forma predominante de acesso a informações entre pré-adolescentes, a mídia a que todos estamos expostos já fez o seu papel na transmissão da informa- ção sexual recheada de clichês, estereótipos e preconceitos.
Pesquisa de Silverman e Watkin (1980) concluiu que a TV é a fonte de informação mais freqüentemente citada para adolescentes de 12 a 16 anos.
O mesmo estudo mostra que o nível de compreensão de insinuações sexuais na televisão aumentou significativamente para as idades entre 12 e 16 anos e até mesmo os adolescentes de 12 anos demonstraram considerável compreensão para as referências sexuais comumente encontradas nos programas de televisão.
Na década de 90, segundo pesquisa do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (UnB) reportada na Revista Imprensa (2000), a maior fonte de suprimento de informações para crianças entre 6 e 14 anos foi a TV (75%), seguida de jornais (52%), revistas (52%) e Internet (50%). Pais e amigos vêm depois...
Grande número de pré-adolescentes e adolescentes com pouca ou ainda nenhuma experiência sexual própria, no entanto, já têm uma estrutura de idéias, cren- ças e atitudes sobre sexo, a maioria delas baseadas na mídia.
A questão que preocupa, entre outras, é o que pode acontecer quando se criam expectativas de imediata gratificação sexual, generalizadas pela mídia e não encontradas na vida sexual real. Baran (1976) constatou que estudantes de segundo grau estão menos satisfeitos com a sua própria sexualidade, comparada com o realismo que eles atribuem ao conteúdo sexual crescente na televisão. Quanto maior é o realismo atribuído ao conteúdo da TV, maior a insatisfação dos estudantes com a sua própria virgindade ou primeira experiência coital. Embora estudantes universitários virgens geralmente expressem menos insatisfação com seu status sexual que os companheiros de segundo grau, os universitários que assistiram mais TV, acreditando na realidade do conteúdo sexual apresentado, estavam menos satisfeitos com a sua própria inexperiência sexual. Com respeito à auto-imagem sexual dos jovens, a força da influência da mídia exerce igualmente um impacto que pode suplantar o das interações familiares.
A exposição a imagens de personagens especialmente atraentes pode também causar impacto no julgamento desses telespectadores quanto à beleza e atratividade física......continua a parte 02
te ao que quer em seu próprio quarto, trocando a convivência e o compartilhar entre os membros da família pelos produtos televisivos, de qualidade e ética bastante questionáveis, com a multiplicidade na oferta de redes de TV, canais e programas, facilitando e reforçando esta separação. Multiplicidade essa também relativa, pois há uma infinidade de programas abordando sempre as mesmas questões de forma estereotipada, mas de audiência garantida. Dados de 2001 da NCRF revelam que nos EUA 56% das crianças têm uma TV em seus quartos e que assistem a aproximadamente 25 horas por semana.
Mesmo que os pais desejem dialogar sobre sexo com seus filhos antes que estes atinjam a maturidade sexual, antes mesmo que surjam as conversas sobre sexo entre colegas, forma predominante de acesso a informações entre pré-adolescentes, a mídia a que todos estamos expostos já fez o seu papel na transmissão da informa- ção sexual recheada de clichês, estereótipos e preconceitos.
Pesquisa de Silverman e Watkin (1980) concluiu que a TV é a fonte de informação mais freqüentemente citada para adolescentes de 12 a 16 anos.
O mesmo estudo mostra que o nível de compreensão de insinuações sexuais na televisão aumentou significativamente para as idades entre 12 e 16 anos e até mesmo os adolescentes de 12 anos demonstraram considerável compreensão para as referências sexuais comumente encontradas nos programas de televisão.
Na década de 90, segundo pesquisa do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (UnB) reportada na Revista Imprensa (2000), a maior fonte de suprimento de informações para crianças entre 6 e 14 anos foi a TV (75%), seguida de jornais (52%), revistas (52%) e Internet (50%). Pais e amigos vêm depois...
Grande número de pré-adolescentes e adolescentes com pouca ou ainda nenhuma experiência sexual própria, no entanto, já têm uma estrutura de idéias, cren- ças e atitudes sobre sexo, a maioria delas baseadas na mídia.
A questão que preocupa, entre outras, é o que pode acontecer quando se criam expectativas de imediata gratificação sexual, generalizadas pela mídia e não encontradas na vida sexual real. Baran (1976) constatou que estudantes de segundo grau estão menos satisfeitos com a sua própria sexualidade, comparada com o realismo que eles atribuem ao conteúdo sexual crescente na televisão. Quanto maior é o realismo atribuído ao conteúdo da TV, maior a insatisfação dos estudantes com a sua própria virgindade ou primeira experiência coital. Embora estudantes universitários virgens geralmente expressem menos insatisfação com seu status sexual que os companheiros de segundo grau, os universitários que assistiram mais TV, acreditando na realidade do conteúdo sexual apresentado, estavam menos satisfeitos com a sua própria inexperiência sexual. Com respeito à auto-imagem sexual dos jovens, a força da influência da mídia exerce igualmente um impacto que pode suplantar o das interações familiares.
A exposição a imagens de personagens especialmente atraentes pode também causar impacto no julgamento desses telespectadores quanto à beleza e atratividade física......continua a parte 02
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